Kazadi (Tubilandu 21´); Mwepu, Mukombo, Buhanga e Lobilo; Kilasu, Kembo, Mana e N'daye; Kidumu e Kakoko. Esse foi o time do Zaire, atual República Democrática do Congo, que entrou em campo contra a Iugoslávia pela Copa da Alemanha, em 1974, e sofreu a então maior goleada em Copas do Mundo (Hungria 10 x 1 El Salvador em 82 derrubou esse recorde): 9 a 0, gols de Bajević (3), Džajić, Šurjak, Katalinski, Bogićević, Oblak e Petković. Muito se fala sobre esse jogo (veja os gols no Youtube), disputado em Gelsenkirchen no dia 18 de junho pela segunda rodada do Grupo B, que também tinha Brasil (que ganharia de 3 a 0 do Zaire quatro dias depois) e Escócia (que ganhara dos zairenses por 2 a 0 quatro dias antes), normalmente ridicularizando, com certa razão, a patética presença do Zaire na Copa.
Mas pouco se fala sobre como o time treinado pelo macedônio Blagoje Vidinić e como ele chegou à uma Copa do Mundo numa época em que só existia uma vaga africana para o torneio.
O Zaire havia sido campeão da Copa da África no mesmo ano, jogada no Egito, depois de vencer Guiné, Congo e Maurício na fase de grupos, o dono da casa na semifinal e Zâmbia em dois jogos finais, sempre com grandes atuações do meia Mulamba N'Daye, que foi, inclusive, expulso no jogo contra a Iugoslávia.
Nas Eliminatórias para a Copa, o Zaire eliminou o Togo na 1ª fase (0x0 e 4x0), Camarões na 2ª (1x0, 0x1 e 2x0), Gana na 3ª (0x1 e 4x1) e Zâmbia e Marrocos (que disputara a Copa de 70 com certo sucesso) no Triangular final, com duas vitória contra os zambianos (2x1 e 2x0) e duas vitórias contra Marrocos (3x0 e um WO, pois era a última rodada e os marroquinos recusaram-se a participar).
Em âmbito nacional, o campeonato zairense de 74 foi vencido pelo Imana (hoje chamado DC Motema Pembe), time da capital Kinshasa e maior campeão de todos os tempos, com 11 títulos, seja nos tempos de Congo-Leopoldville (quando o time chamava Daring), Congo Belga, Congo-Kinshasa, Zaire ou República Democrática do Congo.
Em longa entrevista para a BBC, o lateral-direito Ilunga Mwepu (aquele que corria em direção aos jogadores brasileiros numa cobrança de falta, em cena que ficou famosa) diz que a seleção zairense foi motivo de grande orgulho no país e na África sub-saariana (foi o primeiro time africano da região a chegar à uma Copa do Mundo) quando se classificou para o torneio. Mobutu Sese Seko, ditador que governou o país de 1965 a 1997 deu um carro e uma casa a cada um dos 22 jogadores que faziam parte dos Leopardos (apelido da seleção), mas abandonou o time depois da derrota por 9 a 0.
Segundo o ex-jogador (atualmente camelô nas ruas de Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo), o time se perdeu completamente por duas principais razões: ele acusa o técnico Vidinić (que fora medalha de ouro nas Olimpíadas de 60 como jogador), de usar métodos no mínimo discutíveis de motivação, como chamar os jogadores de negros fedidos. Também afirma que depois da 1ª derrota para a Escócia, o grupo soube que os prêmios prometidos não seriam mais pagos, razão pela qual se recusaram a jogar contra a Iugoslávia. Só jogaram por pedido de Mobutu, que garantiu que o dinehrio seria distribuído.
Conta Mwepu: "Depois do jogo, Mobutu enviou sua guarda presidencial ao vestiário, com o recado que se perdêssemos de 4 a 0 para o Brasil, não voltaríamos vivos para casa." Isso, segundo o ex-lateral, foi uma resposta aos ministros zairenses que ficaram enciumados pelo tratamento dado aos jogadores no período pré-Copa. O Zaire perdeu somente por 3 a 0 para o selecionado brasileiro e voltou pobre, mas tranquilo, ao seu país.
Com a queda de Mobutu em 1997, os novos governantes do país resolveram reabilitar os jogadores, lhes prestando homenagens e dando um salário mensal pequeno, mas que garante certa hombridade. O único dos ex-jogadores de 74 que continua no futebol é o goleiro reserva Tubilandu, que é treinador de goleiros da boa seleção da Repíblica Democrática do Congo.
Um comentário:
Eu estava lendo ainda ontem uma Placar da Copa de 1974, e a matéria "Alunos de primário em concurso de doutores" citava justamente o Zaire (e o Haiti e a Austrália) em uma matéria que tinha dois olhos: "O vexame das goleadas, a vergonha do doping, mesmo simpatia dos australianos não têm sentido numa Copa" e "Os caprichados planos alemães para a Copa não resistiram à incrível fraqueza das seleções haitiana e africana. As goleadas que elas levaram, da Plônia e da Iugoslávia, provaram que os placares eletrônicos não tinham tamanho suficiente. Menos mal que o Haiti mostrou que o controle de doping funciona perfeitamente. Logo no primeiro jogo, um de seus craques foi eliminado da disputa."
E, de alguma maneira, ainda é razoavelmente atual essa matéria, ainda que com personagens distintos...
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