segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Nicarágua: A "Cinderela Centroamericana"

Indios del Boer, Tigres del Chinandega, Tiburones de Granada, Fieras de San Fernando e Leon. Dennis Martínez, Porfi Altamirano, Marvin Benard e David Green. Cinco vezes vice-campeã mundial, cinco vezes terceira colocada na Copa do Mundo e quarta colocada nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996.

Esses são, na ordem, os times mais vitoriosos da Nicarágua, os nomes de jogadores nicaragüenses históricos e os melhores resultados do time centro-americano no esporte nacional do país.

Futebol? Não. Beisebol. Descoberta em 1502 por Cristóvão Colombo e posteriormente colonizada por espanhóis, a Nicarágua passou por longos períodos de ditadura, sempre apoiadas pelos Estados Unidos: o primeiro dos ditadores, em 1857, inclusive, nasceu lá: William Walker. Dessa forma, a cultura dos EUA sempre esteve muito presente na Nicarágua, inclusive nos esportes, o que fez com que o futebol não fosse praticado por muitos.

Quando Anastasio Somoza (um militar que fora intérprete do governo perante negociações na ONU e que detestava futebol) tomou o poder de Juan Bautista Sacasa, depois de matar o revolucionário Augusto Sandino, em 1937, a coisa piorou para o futebol. Aliás, o esporte existia oficialmente no país apenas desde 1929, quando a seleção nacional disputou um amistoso contra El Salvador, naquele que foi o primeiro dos vexames nicaraguenses no futebol: derrota por 9 a 0 para os adversários. Exceto esporádicas participações em torneios internacionais e uns poucos amistosos da seleção e dos clubes, o futebol ‘pinolero’ (apelido do povo nicaragüense derivado de uma bebida nacional, o pinolillo, uma amarga mistura de milho e chocolate, servida com leite ou água e sem açúcar) praticamente inexistia.

Depois da queda da família Somoza e ascensão dos sandinistas (seguidores de Augusto Sandino), 42 anos depois, o futebol começou a ter verdadeiro impulso no país, com freqüentes presenças em campeonatos continentais, além de ter levado clubes do país a resultados internacionais sofríveis, mas melhores do que a completa ausência de jogos, com WOs eram muito comuns. Hoje, com ajuda inclusive da Fifa, o futebol é disputado por crianças e sobretudo, assim como nos Estados Unidos, por meninas em idade escolar.

Cercada de futebol, ama beisebol

Apesar desse pequeno, porém visível crescimento (a Liga Nacional chama-se Torneio Ricardo Morales Avilés, nome de um revolucionário sandinista, o que mostra a boa vontade do Partido Sandinista com o futebol), a Nicarágua ainda tem um desempenho terrível no âmbito centro-americano, onde é o maior país e está cercado de nações com certa tradição no futebol, como Honduras, El Salvador e Costa Rica.

Nos últimos quatro jogos oficiais de La Azul y Blanco, foram três derrotas para El Salvador, Guatemala e Honduras (9 a 1) e uma vitória sobre Belize. Esse cartel mostra o quanto a Nicarágua está longe de ser considerada um adversário importante na região. De 104 jogos disputados em sua história, a ‘Cinderela Centroamericana’, apelido carinhoso por ser a seleção mais fraca do continente, ganhou apenas 10, fez 79 gols e tomou 389.

Entre esses resultados, não está a goleada de 14 a 0 aplicada pelo Brasil nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1975, mas há números assustadores, como derrotas por 11 a 1 para Curaçao, 10 a 0 para Honduras e 10 a 1 para El Salvador. Sobre esse jogo contra o Brasil, algo deve ser dito a favor dos nicaragüenses: o time chegou um dia antes da partida e não conseguiu se ambientar decentemente. Além disso, passou por eliminatórias na América Central, o que por si só já é digno de honra.

A evolução do futebol como esporte na Nicarágua é vista nos locais onde se disputam os jogos. O estádio nacional Dennis Martínez, que surgiu como estádio de beisebol (Martínez foi o primeiro nicaragüense a jogar pela Major League Baseball, a liga dos EUA), agora divide espaço com o futebol e, não raramente, enche para assistir a jogos do América local contra times mais tradicionais, como o Diriangén (maior equipe do país) e Real Estelí, ambos do interior.

Talentos no interior

É no futebol do interior do país que começam a despontar alguns talentos, mesmo que restritos à região. É o caso do atacante Emilio Palacios, de 24 anos, que começou no Diriangén e, após fazer três gols em um mesmo jogo (na vitória contra Belize por 4 a 2 pela Copa Uncaf), foi considerado a grande revelação do futebol nicaragüense e contratado pelo Independiente Nacional 1906, de El Salvador.

Também em El Salvador jogam os atacantes Shawn Martin (com somente 19 anos), que, apesar de nascido na Nicarágua, começou a jogar no Águila, um dos principais times salvadorenhos, Wilber Sanchez (com 28 anos), que está no San Salvador, time mais rico do país vizinho, e Samuel Wilson, que joga no Atlético Olanchano.

Um novo estádio exclusivo para a prática do futebol está sendo construído na capital Manágua, com apoio da Fifa. O estádio, que ficará dentro de uma universidade, abrigará no futuro 25 mil espectadores e é um caminho de trazer mais popularidade e melhores resultados à Nicarágua. É um começo muito tímido e nada inspirador. Mas é um começo.

matéria de minha autoria originalmente publica no site Trivela, na seção "Conheça a Seleção"



Um comentário:

Arthur Virgílio disse...

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