terça-feira, 14 de agosto de 2007

Do bairrismo

Moro na Mooca há pouco mais de 5 anos, mas minha origem está aqui. Morei em Santo Amaro durante 30 anos. Para quem não sabe, são bairros de São Paulo, o primeiro na Zona Leste e o segundo na Zona Sul, um a quase 30 quilômetros do outro. Adoro a Mooca e fico feliz ao vê-la crescendo e progredindo. Fico feliz quando ouço falarem do charme interiorano desse bairro ao lado do Centro da cidade. Também sempre me sinto bem ao voltar para Santo Amaro, me ofendo quando xingam o horroroso Borba Gato (eu posso, sou de lá!), me orgulho de ter morado entre o Aeroporto de Congonhas e o Autódromo de Interlagos.

Isso é bairrismo?

Para uma pessoa que diz que não sai da Mooca nem para comprar um livro (e tem que se contentar com uma fraquíssima filial da Livraria Nobel na Paes de Barros), sim. Para uma pessoa que diz não sair de Santo Amaro nem para comer um beirute (e tem que se contentar com algum Habib´s da vida), também.

Outro dia, vi um comentarista do Sportv dizer que abominava bairrismo, ao justificar seu apoio à imoral absolvição de Dodô, pois era "coisa de paulista" querer a punição de Dodô. No dia seguinte, li outro comentarista, esse no jornal Lance!, dizer que "...a absolvição de Dodô... tribunal carioca, time carioca...".

Qual dos dois está certo? Nenhum deles. Estão os dois errados. Dodô não foi absolvido porque é carioca ou joga num time carioca. Dodô foi absolvido porque a justiça não é cega, mas míope. Não foi caso de "paulistanismo" ou "carioquismo", mas de "incompetentismo".

O bairrismo, via de regra, me lembra o zagueiro que levanta a mão quando a linha-burríssima falha e o centroavante aparece livre em cima do goleiro. Ele, zagueiro lento e despreparado, ao levantar a mão, quer dizer algo como "fiz o certo, bandeira! Você que errou!"

Assim é quem acusa determinados jornalistas e determinadas opiniões de bairristas ou clubistas. Quando um carioca, ao ouvir uma opinião elogiando o Palmeiras, diz que o jornalista é um bairrista. Quando um gaúcho, ao ouvir um mineiro falando que o Atlético Mineiro tem a camisa mais bonita que a do Inter, o acusa de clubista sem-vergonha.

Quando na verdade, o clubismo e o bairrismo estão na cabeça de quem acusa. Via de regra, o acusador tem em mente uma suposta perseguição contra seu time/bairro/estado/rua/beco, o que, para mim, configura um evidente sinal de complexo de inferioridade.

Em maior ou menor intensidade, todos nós já nos sentimos inferiorizados. Nestes momentos, tendemos a perceber os outros como uma enorme ameaça a nós, "tão indefesos". Achamos que todos abusam de nossa enorme boa vontade e bondade, mas na verdade, precisamos nos "auto-aceitar", o que recusamos ser verdade. Ao recusarmos a própria necessidade de aceitação, colocamo-nos como vítimas de um mundo hostil. Achando que de fato somos inferiores, então nos defendemos da forma que sabemos. E desmerecer o oponente é um caminho fácil e libertador.

É o caso lá do meu primeiro parágrafo. Eu sei que o Borba Gato é uma coisa horrorosa. Mas não quero que falem mal dele, é o símbolo do bairro em que vivi quase minha vida toda. Você acha o Borba Gato feio? Seu bairrista! Vai morar no Rio, lá não tem Borba Gato! E me deixe em paz!

Isso não é só bairrismo. É burrismo.


4 comentários:

Filipe Lima disse...

Mais perfeito, impossível!

Aplaudo, sem adicionar nem tirar nada do que disses!

Unknown disse...

Perfeito!

E me poupo de fazer comentários sobre o Borba Gato...

Roberto Piantino

Alexandre Anibal disse...

Brilhante, Bindi. Brilhante.

Aconteceu no Brasil disse...

nem sei se vc acompanha mais esse topico, pois é antigo, vc diz q bairrismo existe na nossa propria cabeça até ai tudo bem mas agora me explica um fato q aconteceu hj na semi-final da libertadores, a famosa rede globo naum exibiu o jogo entre cruzeiro e gremio em são Paulo e no Rio e sim o cinema especial agora se fosse o São Paulo q tivesse passado pelo Cruzeiro o Brasil inteiro seria obrigado a engolir o jogo se isso naum eh um bairrismo descarado da rede globo então me explica o que é...
desde já agradeço a oportunidade de expressar o q penso