Ter os Deuses do futebol dentro de si
por Leandro Iamin
Quem sentou-se serio e concentrado para ver Brasil e Colômbia, domingo, ficou inquieto. Porque o jogo atrasou, e porque o jogo não andou. Foi uma partida hesitante da nossa Seleção, que, se segue sem nunca perder pra Colômbia em Eliminatórias, repete o início não-ideal das Eliminatórias da Copa-2002, com outro "ôxo" para as estatísticas.
Me lembrei desse time do Dunga sentando o pé num amistoso contra o Equador, em Estocolmo, 2006. Veio à mente, também, os Canarinhos no Rasunda, chegando junto contra os chilenos, num 4x0, também em 2006. Eram amistosos e eu esperava mais disso no El Campín, quando, enfim, era pra valer.
O combate brasileiro irritou porque foi confuso e, por vezes, desinteressado. A armação canarinho revoltou porque foi desinteressada e, algumas vezes, confusa. A vizinhança me enjoou, porque voltou a usar de ironia com Afonsos e Loves.
Sejamos práticos. Muita chuva, altitude, uma Colômbia virtuosa, entusiasmada, e está aí um quadro de alguma dificuldade. Poderia ser superado. Não foi. Não se culpa a chuva, nem a altitude. A Colômbia teve mérito no trabalho que fez, ainda que o trabalho feito também não tenha causado nenhum estrago em nossa equipe.
Mas faltou entusiasmo, palavra essa que significa "ter os deuses dentro". Faltou curtir a chuva e tornar o calção marrom. Faltou arriscar lançamento, chute de longe, pela altitude. Faltou ter os deuses do futebol dentro de si. Bagunçar o coreto, isso que faltou.
Nada de alarmante. Não se ensaia nenhuma crise com este empate. Dunga dará sequencia ao seu trabalho convicto, a tábua de classificação sempre será generosa, mas, contudo, precisa fazer notar alguns pontos. Entender que nem sempre será cômodo lidar com realidades "absurdas", como, num belo dia, Julio Baptista estar melhor condicionado do que Robinho. Entender que o centro-avante necessita fazer o pivô, ou desocupar a moita.
Arrumar aqui, acolá, passo a passo, vamos lá. Equador e Paraguai já exibiram suas fraquezas, e a Colômbia, se solucionar os bafafás internos, pode conseguir uma credencial de favorita para uma vaga, ao passo que Uruguai e Argentina não fizeram nada além do trivial, e não me assustam. Os bicampeões da América ainda possuem o mais azeitado dos times da competição.
Não se trata, porém, ainda, de um time brilhante, até porque não é uma das mais inspiradas gerações do nosso futebol. Mas até o momento, este time tem se mostrado honesto (definição que somelliers adoram dar para vinhos, sei lá porque). Um time que quando briga não parece artificial (como Lugano), e quando joga não mostra soberba (como Tevez).
Mas que não brigou nem jogou na Colômbia. Em que pese o gramado que pesou e o ar que faltou, a postura do time terá de ser mais decidida, imperativa e esclarecida a partir do jogo contra o Equador. Ou então, outra vez, deixarão de acreditar na retórica de Dunga, letra essa que só precisa de um pingo pra chegar na boca do povo. O que eu lamento e rejeito, como torcedor, e como crítico também.
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Leandro Iamin é jornalista, tem 23 anos e, torcedor incondicional da Seleção, arquiteta e lidera um movimento de Torcida Organizada do Brasil, a Canários do Reino, que pode ter seu "dia 1" nessa quarta, no Maracanã.
Leandro Iamin é jornalista, tem 23 anos e, torcedor incondicional da Seleção, arquiteta e lidera um movimento de Torcida Organizada do Brasil, a Canários do Reino, que pode ter seu "dia 1" nessa quarta, no Maracanã.
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