O campeão nepalês de 2063 foi o Mahendra Police, da capital Kathmandu. O time alvi-azul da polícia local fez 65 pontos em 26 jogos, lutando até o fim do Campeonato Nacional (chamado Martyr's Memorial ANFA 'A' Division League) contra o Tribhuvan Army. Apenas na última rodada, no dia 23 de mangsir de 2063, o título foi decidido.
Não, o autor deste texto não enlouqueceu ainda. Diferentemente do Brasil (e da imensa maioria dos países do mundo), o Nepal segue oficialmente, desde 1958, outro calendário: o Bikram Samwat, comumente abreviado como BS, que foi criado e instituído pelo imperador hindu Vikramaditya, que governou toda a região de Ujjain (centro da Índia), mas que disseminou suas conquistas até o Nepal e Bangladesh. Fazendo as necessárias conversões, 23 de mangsir de 2063 é 8 de março de 2007.
Foi o primeiro título do Mahendra no futebol nepalês, que é dominado por times de Kathmandu e que tem no Manang Marsyangdi e no Rani Pokhari os grandes campeões, com seis títulos cada um. O país é absolutamente fanático pelo futebol, que chegou ao Himalaia por meio de estudantes ingleses que foram até lá como alpinistas ou missionários budistas que por lá ficaram, e como aconteceu em muitos países do mundo, ‘fundaram’ o futebol.
Religião, maoísmo e futebol
País de imensa influência religiosa (foi na cidade nepalesa de Lumbini que nasceu Sidarta Gautama, que ficou posteriormente conhecido como Buda), o Nepal tem um longo histórico no futebol, que existe lá desde 1921, apesar da federação nacional ter sido fundada 30 anos depois. Até no escudo da federação existem símbolos religiosos e da monarquia, que governou o país até 2006, quando um golpe de estado transformou o Nepal numa república de orientação maoísta. Por isso, o escudo da federação irá mudar para o desenho ao lado, que retira os símbolos monárquicos e budistas.
A despeito de ser muito fraca em termos internacionais e mesmo no âmbito continental, a seleção nepalesa não é de todo um saco-de-pancadas entre seus vizinhos de Península Índica. Já foi campeão do torneio das Federações da Ásia Meridional (campeonato que em 2006 foi disputado por Sri Lanka, Paquistão, Maldivas, Butão, Índia, Afeganistão e Bangladesh) em 1984 e 1993, vice em 1987 e 1999, além de terceiro colocado na última edição.
A seleção do Nepal é dirigida atualmente pelo técnico Shyam Thapa, indiano que comandou os grandes times de seu país, especialmente o East Bengal e a seleção da Índia na década de 70, na última boa fase da seleção vizinha, chegando à terceira colocação na Copa da Ásia. Thapa chegou no começo do ano ao Nepal, com o firme objetivo de preparar a cultura nepalesa para um plano de longo prazo: classificar o time para a Copa de 2014.
A missão não será evidentemente fácil para uma seleção praticamente amadora que sofreu 83 gols em 22 jogos nas quatro eliminatórias que disputou, o que inclui derrotas de 9 a 0 para a Coréia do Sul e 9 a 1 para o Iraque, sem contar resultados fora do qualificatório para a Copa, como um 16 a 0 para a mesma equipe coreana, em 2003.
O que esperar
O melhor jogador nepalês em atividade no país é Surendra Tamang, de 25 anos, atacante veloz, goleador e muito confiante, mas que tem o defeito de tentar resolver o jogo sozinho. Jogador do Three Star, Tamang chegou a jogar na Índia, mas não teve sucesso. Além dele, o veterano goleiro Upendra Man Singh (que também é formado em medicina) tem cada vez mais respeito, conquistado ao longo de muitos jogos e poucos gols sofridos: entre 2005 e 2007, foram 42 jogos e apenas 22 gols.
É no estádio Dasarath Rangasala, com capacidade para 25 mil pessoas, na capital, que jogam a maioria dos times nepaleses, assim como a seleção. Nesse estádio surgem alguns nomes interessantes, principalmente aqueles que começaram a se destacar na Copa da Ásia sub-16, quando chegaram à fase final, disputada no Vietnã.
O meia Ram Kumar Biswash, que apareceu nesse torneio, é considerado por Shyam Thapa como um grande cabecedor e excelente finalizador, apesar de fisicamente frágil. O goleiro Surendra Lal Shrestha, muito jovem e que joga no New Road Team, tem potencial, por ser alto para os padrões locais (1,91m), mas peca justamente pela inexperiência. Também o zagueiro Sagar Thapa, de 21 anos, é inexperiente, mas é veloz e firme na marcação, além de ter muito espírito de equipe (chegou aos 16 anos à titularidade no Manang Marsyangdi, um dos grandes times do Nepal) e foi eleito melhor defensor do país no ano passado.
Não, o autor deste texto não enlouqueceu ainda. Diferentemente do Brasil (e da imensa maioria dos países do mundo), o Nepal segue oficialmente, desde 1958, outro calendário: o Bikram Samwat, comumente abreviado como BS, que foi criado e instituído pelo imperador hindu Vikramaditya, que governou toda a região de Ujjain (centro da Índia), mas que disseminou suas conquistas até o Nepal e Bangladesh. Fazendo as necessárias conversões, 23 de mangsir de 2063 é 8 de março de 2007.
Foi o primeiro título do Mahendra no futebol nepalês, que é dominado por times de Kathmandu e que tem no Manang Marsyangdi e no Rani Pokhari os grandes campeões, com seis títulos cada um. O país é absolutamente fanático pelo futebol, que chegou ao Himalaia por meio de estudantes ingleses que foram até lá como alpinistas ou missionários budistas que por lá ficaram, e como aconteceu em muitos países do mundo, ‘fundaram’ o futebol.
Religião, maoísmo e futebol
País de imensa influência religiosa (foi na cidade nepalesa de Lumbini que nasceu Sidarta Gautama, que ficou posteriormente conhecido como Buda), o Nepal tem um longo histórico no futebol, que existe lá desde 1921, apesar da federação nacional ter sido fundada 30 anos depois. Até no escudo da federação existem símbolos religiosos e da monarquia, que governou o país até 2006, quando um golpe de estado transformou o Nepal numa república de orientação maoísta. Por isso, o escudo da federação irá mudar para o desenho ao lado, que retira os símbolos monárquicos e budistas.
A despeito de ser muito fraca em termos internacionais e mesmo no âmbito continental, a seleção nepalesa não é de todo um saco-de-pancadas entre seus vizinhos de Península Índica. Já foi campeão do torneio das Federações da Ásia Meridional (campeonato que em 2006 foi disputado por Sri Lanka, Paquistão, Maldivas, Butão, Índia, Afeganistão e Bangladesh) em 1984 e 1993, vice em 1987 e 1999, além de terceiro colocado na última edição.
A seleção do Nepal é dirigida atualmente pelo técnico Shyam Thapa, indiano que comandou os grandes times de seu país, especialmente o East Bengal e a seleção da Índia na década de 70, na última boa fase da seleção vizinha, chegando à terceira colocação na Copa da Ásia. Thapa chegou no começo do ano ao Nepal, com o firme objetivo de preparar a cultura nepalesa para um plano de longo prazo: classificar o time para a Copa de 2014.
A missão não será evidentemente fácil para uma seleção praticamente amadora que sofreu 83 gols em 22 jogos nas quatro eliminatórias que disputou, o que inclui derrotas de 9 a 0 para a Coréia do Sul e 9 a 1 para o Iraque, sem contar resultados fora do qualificatório para a Copa, como um 16 a 0 para a mesma equipe coreana, em 2003.
O que esperar
O melhor jogador nepalês em atividade no país é Surendra Tamang, de 25 anos, atacante veloz, goleador e muito confiante, mas que tem o defeito de tentar resolver o jogo sozinho. Jogador do Three Star, Tamang chegou a jogar na Índia, mas não teve sucesso. Além dele, o veterano goleiro Upendra Man Singh (que também é formado em medicina) tem cada vez mais respeito, conquistado ao longo de muitos jogos e poucos gols sofridos: entre 2005 e 2007, foram 42 jogos e apenas 22 gols.
É no estádio Dasarath Rangasala, com capacidade para 25 mil pessoas, na capital, que jogam a maioria dos times nepaleses, assim como a seleção. Nesse estádio surgem alguns nomes interessantes, principalmente aqueles que começaram a se destacar na Copa da Ásia sub-16, quando chegaram à fase final, disputada no Vietnã.
O meia Ram Kumar Biswash, que apareceu nesse torneio, é considerado por Shyam Thapa como um grande cabecedor e excelente finalizador, apesar de fisicamente frágil. O goleiro Surendra Lal Shrestha, muito jovem e que joga no New Road Team, tem potencial, por ser alto para os padrões locais (1,91m), mas peca justamente pela inexperiência. Também o zagueiro Sagar Thapa, de 21 anos, é inexperiente, mas é veloz e firme na marcação, além de ter muito espírito de equipe (chegou aos 16 anos à titularidade no Manang Marsyangdi, um dos grandes times do Nepal) e foi eleito melhor defensor do país no ano passado.
matéria de minha autoria originalmente publicada na Trivela.
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